AMIG Brasil divulga manifesto contra Projeto de Lei do Licenciamento Ambiental, previsto para ser votado pelos deputados nesta semana

AMIG Brasil divulga manifesto contra Projeto de Lei do Licenciamento Ambiental, previsto para ser votado pelos deputados nesta semana

A Associação Brasileira dos Municípios Mineradores (AMIG Brasil) divulgou nesta terça-feira (15) um manifesto público contra o Projeto de Lei 2159/2021, que institui a chamada Lei Geral do Licenciamento Ambiental. O texto, aprovado pelo Senado Federal em 21 de maio de 2025, retorna agora à Câmara dos Deputados, onde será votado nesta semana. A proposta tramita no Congresso há mais de 20 anos e foi mandada de volta para a Câmara, já que os senadores fizeram modificações em relação à versão dos deputados.

 

A AMIG Brasil reconhece a necessidade de uma legislação moderna e eficiente para o licenciamento ambiental no Brasil, mas afirma que o texto atual representa “um grave retrocesso” e traz riscos significativos para os municípios mineradores e para o meio ambiente, sobretudo por fragilizar o controle e a responsabilização em casos de desastres ambientais.

 

Segundo a entidade, “o projeto, como foi aprovado no Senado, ignora o histórico recente de tragédias como os rompimentos de barragens em Mariana (2015) e Brumadinho (2019) e falha ao não prever dispositivos robustos de responsabilização de empresas, gestores e técnicos envolvidos em licenciamentos simplificados.”

 

Principais críticas da AMIG ao PL 2159/2021

Entre os pontos mais preocupantes destacados pela AMIG, estão:

 

1. Licença por Adesão e Compromisso (LAC):
Considerada uma forma de “autolicenciamento”, a LAC permite que empresas iniciem suas atividades com base apenas em autodeclarações, sem estudos técnicos aprofundados e sem responsabilização pessoal clara de quem assina. A entidade alerta que empreendimentos com alto potencial de impacto, como os que causaram os desastres de Mariana e Brumadinho, poderiam ser enquadrados nessa modalidade.

 

2. Licença Ambiental Especial (LAE):
A LAE permite trâmite acelerado para projetos considerados “prioritários”, com prazo máximo de um ano para análise. A AMIG aponta risco de influência política na definição desses projetos e alerta para a possível diluição de responsabilidades em caso de falhas ou acidentes.

 

3. Fragilização institucional:
A proposta reduz o papel de órgãos como o CONAMA e conselhos estaduais, enfraquecendo a fiscalização e concentrando competências em entes que, segundo a AMIG, muitas vezes não possuem estrutura técnica ou financeira suficiente. Essa descentralização sem garantias técnicas pode levar à chamada “concorrência antiambiental” entre estados e municípios.

 

4. Exclusão das Áreas de Influência Indireta (AII):
O projeto omite os impactos indiretos nos estudos ambientais, o que compromete a avaliação de consequências cumulativas da mineração, como desmatamento, contaminação de rios e pressão sobre comunidades vizinhas.

 

5. Omissão sobre crise climática:
Para a AMIG, o texto é completamente omisso em relação às mudanças climáticas, não exigindo qualquer análise sobre riscos climáticos ou medidas de adaptação – algo especialmente grave para municípios mineradores, que já enfrentam alta vulnerabilidade a eventos extremos.

 

“Irresponsabilidade organizada”

A entidade cita o conceito do sociólogo alemão Ulrich Beck sobre “irresponsabilidade organizada”, que descreve como as instituições modernas lidam com riscos: reconhecendo-os, mas evitando a responsabilização. A AMIG Brasil sustenta que o PL 2159/2021 institucionaliza essa lógica, ao flexibilizar processos e não prever mecanismos efetivos de punição em caso de desastres.

 

Propostas da associação

No manifesto, a associação apresenta dez propostas para revisão do texto, que já haviam sido apresentadas aos senadores e deputados antes da votação em 29 de maio. A entidade sugere mudanças como:

 

-Inclusão de responsabilidade pessoal e solidária de empresas, gestores e técnicos;
-Tipificação de crimes ambientais relacionados à falsidade em autodeclarações;
-Reforço do papel de órgãos fiscalizadores e garantia de autonomia técnica;
-Incorporação de análises climáticas nos licenciamentos;
-Garantias específicas para municípios mineradores e fortalecimento técnico local;
-Revisão das regras de LAC e LAE, restringindo seu uso a casos de baixo impacto;
-Reincorporação das áreas de influência indireta nos estudos ambientais.

 

AMIG Brasil defende revisão profunda e diálogo técnico

Para a AMIG Brasil, é fundamental que a Câmara dos Deputados promova um debate mais amplo e técnico antes de votar o projeto. “Flexibilizar as leis ambientais sem regras claras de responsabilização é um retrocesso inaceitável. Se a flexibilização avançar, ela precisa vir acompanhada de garantias firmes de proteção ambiental e justiça para as comunidades atingidas”, afirma.

 

A associação reitera seu compromisso com o desenvolvimento sustentável, mas enfatiza que isso só será possível com transparência, rigor técnico e respeito às especificidades dos territórios mineradores.

 

Confira a íntegra do documento enviado no link: NOTA_PUBLICA_SOBRE_PROJETO_DE_LEI_2159.pdf

 

 

 

 

 

Related Articles

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *