Investigações da Polícia Civil mostram que o grupo movimentou cerca de R$ 67 milhões com golpes por telefone, em dois anos
Uma facção que surgiu há mais de uma década dentro dos presídios do Rio já conta com uma legião de 18 mil detentos, cerca de 42% dos presos no estado. Segundo relatórios de inteligência da Secretaria estadual de Administração Penitenciária, o grupo especializado em aplicar golpes do falso sequestro diz fazer parte da facção chamada Povo de Israel (PVI) e já supera, em número de integrantes, o Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro. Investigações da Polícia Civil mostram que o grupo movimentou cerca de R$ 67 milhões — em dois anos — com golpes por telefone. Construtora, lotérica e atacadista de fruta também fazem parte das empresas usadas pelo Povo de Israel para lavar o dinheiro do crime. Na manhã desta terça-feira, uma operação da Polícia Civil e da polícia penal tem como alvo a facção.
- Facção Povo de Israel: organização criminosa comete extorsões e golpes de dentro dos presídios e já supera facções do tráfico em número de presos
- Movimentação de R$ 67 milhões: criminosos da facção Povo de Israel dividem os lucros entre ‘empresários’, ‘ladrões’ e ‘laranjas’
A investigação mostra ainda que o grupo usou pessoas jurídicas na engrenagem de lavagem de dinheiro da organização criminosa PVI. Um esquema que teria movimentado milhões de reais.
Em apenas uma empresa mencionada como “de fachada”, a suspeita é de que tenha sido realizada uma movimentação de R$ 4 milhões. Com sede indicada no município de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, dois integrantes da empresa acusada são investigados. Eles teriam recebido valores via pix sem justificar as quantias e as enviaram para um dos investigados.
- Nelson Hungria: Polícia apreende carga de drogas e celulares dentro de quentinhas para a facção Povo de Israel em presídio do Rio
Para uma lotérica do Espírito Santo, a movimentação suspeita seria no total de R$ 132 mil em oito operações. Também enviadas por um dos investigados.
Também em São Gonçalo, uma empresa atacadista no ramo de distribuição de frutas recebeu valores fracionados em dez operações que somam R$ 260 mil.
Já para outra que atua no ramo de revenda de bolsas e acessórios, em Copacabana, o faturamento foi de R$ 1,2 milhão em nome de uma das investigadas.
- Após se alastrar por 21 estados: Comando Vermelho trava guerra expansionista no Rio e já tomou 19 comunidades da milícia
Por último, aparece uma empresa do ramo de preparação de joias também em Copacabana, na Zona Sul do Rio, com um faturamento suspeito de R$ 2,1 milhões.
Entenda como funciona a facção
A facção Povo de Israel (PVI) também faz ameaças a comerciantes e moradores em áreas dominadas por outros grupos criminosos. As vítimas são forçadas a transferir dinheiro para contas de terceiros, que repassam os valores conforme ordens da chefia do grupo. Segundo a polícia, o lucro dos golpes é dividido em quatro partes: 30% para o “empresário”, responsável pelo celular; 30% para o “ladrão”, executor do golpe; 30% para o “laranja”, que recebe o dinheiro; e o restante vai para o caixa comum do PVI.
- Transplantes infectados: irmã de Luizinho e diretor com ligações com o deputado estão entre os exonerados da Fundação Saúde
De acordo com um relatório de inteligência da Seap, até o fim de 2022, o tráfico feito pelo Povo de Israel era restrito a pequenas quantidades dentro do sistema. Porém, desde o ano passado, a quadrilha firmou acordos com grandes fornecedores e deu uma dimensão maior ao tráfico.
Em nota, a Seap destacou que as ações para combater as atividades ilícitas promovidas pelo grupo foram intensificadas. Eles estariam atuando nas unidades de presos de perfil tido como neutro.
Polícias Civil e Penal realizam operação contra organização criminosa em presídios

- Caso Anic: polícia fará reprodução simulada da morte de advogada. Corpo foi encontrado concretado e sepultado em pé
“A secretaria acrescenta que, entre os servidores citados, dois deles já respondem a processos administrativos disciplinares (PAD) e um deles se encontra preso. Sobre o episódio envolvendo uma tentativa de ingressar no presídio Nelson Hungria com celulares em uma quentinha, foi verificado que a ação partiu exclusivamente dos servidores envolvidos, tendo sido descartada a participação da empresa fornecedora de alimentação para a unidade prisional”, explica a Seap.