Museu do Ipiranga tem mais de 400 mil itens não expostos; conheça o acervo

O Museu Paulista, que fica no bairro Ipiranga, em São Paulo (SP), um dos maiores e mais importantes museus históricos do país, conta com 49 salas com 12 exposições permanentes e temporárias espalhadas pelos espaços. Ele tem cerca de 14 mil m² de área construída e apenas 1% de seu acervo está disponível para a comunidade, além de ser o museu público mais antigo do estado, tombado como patrimônio histórico municipal, estadual e federal.

Local abriga mais de 400 mil itens

A reserva técnica do museu tem mais de 400 mil itens, entre objetos, iconografia e documentações textuais que vão do século XVII ao XX. Ela recebe semanalmente vários profissionais de diferentes setores – entre eles pesquisadores, historiadores, professores, museólogos e conservadores. O espaço é adaptado para atender as necessidades das características de cada objeto, por esta razão eles são agrupados por tamanho e material – ambiente precisa ser programado com temperaturas de resfriamento e controle de umidade certos, para que nada seja danificado na conservação.

Parte das mobílias armazenada na reserva técnica do museu – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Atualmente a divisão dos imóveis é feita desta forma: um deles é destinado a peças maiores e pesadas abrigando veículos e grandes armários; em um segundo são armazenadas coleções de pinturas, objetos domésticos de porcelana e outros materiais que não sejam pesados (são divididos em salas diferentes); um terceiro ambiente acomoda o acervo têxtil e de plástico – com vestes militares, toalhas, tapetes e brinquedos – além de objetos feitos com pedra, como banheiras e cofres. Por fim, um quarto ambiente armazena materiais em papel e fotografias, que requerem uma atenção especial, pela sensibilidade dos elementos.

Veículos maiores são armazenados no primeiro andar do acervo – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Além dos cuidados com temperaturas e locais aptos para o armazenamento dos objetos, são necessárias precauções de higiene para que não exista a possibilidade das peças serem degradadas por pragas, como os cupins. O aluguel dos espaços também são pensados para que seja possível guardar corretamente os itens históricos. O local das pinturas, por exemplo, precisa contar com pé direito alto e suportes específicos, já o dos móveis deve conter plataformas metálicas e mecanismos com portinholas e corredores largos que permitam a movimentação delicada deles.

Ao todo, são 15 profissionais que circulam e trabalham na reserva, na qual são escalados fixamente ou dependendo das demandas de estudo, restauração e movimentação do acervo. As funções do trabalho são divididas em: documentação e catalogação; o setor de consulta de pesquisadores e docentes; desenvolvimento do banco de dados; um responsável pela documentação do movimento das peças e a função exclusiva de cuidados envolvendo a numismática, filatelia e medalhística – cuidado com moedas e cédulas, selos e medalhas.

Reserva técnica na parte de mobílias – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Os objetos podem ser vistos pela população por meio das exposições do Museu do Ipiranga, as visitas são conduzidas pelas três linhas de pesquisa da instituição – O universo do trabalho; Cotidiano e sociedade; e História do imaginário.

Para que as exposições possam ser abertas ao público, os projetos do museu partem primeiro da análise dos profissionais das reservas e dos curadores – os que estão associados ao museu ou a outras instituições museológicas acessam os espaços e o banco de dados para idealizar as coleções que poderão ser expostas no futuro. Nesse processo, os itens escolhidos são verificados, e todas as peças selecionadas passam por um procedimento de higienização e reparação, feito normalmente no próprio lugar pelos profissionais especializados

A nova gestão do museu, eleita em junho deste ano, conta com Garcez Marins como diretor e a historiadora Maria Aparecida de Menezes Borrego como vice. O ponto central da gerência é elaborar e aplicar um projeto de centro de pesquisa e ensino cultural material – será um bloco técnico, que contará com acesso às reservas técnicas, laboratórios de conservação, áreas de processamento e catalogação, gabinetes docentes, áreas administrativas e a biblioteca do museu. A proposta das mudanças é integrar todas as seções da instituição e tentar trazer o acervo para o local original. “É uma mudança fundamental, já que hoje ocupamos imóveis alugados”, explicou Garcez Marins.

Valesca Santini que atua na seção de documentação e gestão – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

A iniciativa da reserva representa um ganho para a coleção museológica do país – sua expansão traria benefícios, mas é financiada principalmente por doações espontâneas de interessados, por isso a dificuldade no processo. Uma das repartições do museu é responsável por atender e aceitar essas doações, o Conselho do Museu é quem determina se a contribuição de fato dialoga com o acervo e as linhas de pesquisa da instituição, assim como se há espaço adequado para o armazenamento.

Como curiosidade: uma das peças mais antigas do acervo do Museu do Ipiranga é um contador Filipino do século XVI. Ele era utilizado para guardar documentos importantes e objetos de valor, e pertencia ao reinado dos reis Filipes, na Espanha e em Portugal – é do século da tradição espanhola e por isso possui ornamentações em ouro e estrelas de Davi. Por outro lado, as peças “recentes” da instituição são do século XX.

Para além de todo o peso histórico e educativo que a entidade representa, desde 1963 o local está sob administração da USP (Universidade de São Paulo), atendendo as demandas de ensino e pesquisa.

Informações para o acesso as instalações e seu acervo digital

Com a intenção de continuar a preservação a longo prazo e aumentar o acesso ao público nacional, o Museu Paulista começou a digitalização e informatização de seus acervos a partir da década de 1990. No ano passado, a instituição adquiriu uma plataforma on-line, que utiliza o Tainacan – software desenvolvido pelo Laboratório de Inteligência de Redes da Universidade de Brasília (UnB). O site reúne documentos de múltiplos tipos e um programa de curadoria digital, com rotatividade de três meses. A iniciativa única busca convidar pesquisadores para propor recortes temáticos ou tipológicos que possam aumentar o acesso do público ao acervo.

O Museu do Ipiranga está localizado na Rua dos Patriotas, 100, Ipiranga, em São Paulo. Funciona de terça a domingo (inclusive feriados), das 10h às 17h, e seus ingressos podem ser adquiridos pelo Sympla.

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